Atualmente, o tratamento de preservação da fertilidade conta com técnicas avançadas de reprodução assistida, dando ao paciente tempo hábil para começar um tratamento oncológico.

Para os homens o tratamento é muito simples e, em até cinco dias, podem ser recolhidas e armazenadas 02 ou 03 amostras de sêmen, que permitem uma excelente reserva reprodutiva.

No caso das mulheres, a preservação do potencial reprodutivo é feita, principalmente, utilizando a tecnologia de congelamento de óvulos. Um procedimento simples e muito utilizado em todo mundo.

Novas oportunidades

Em casos mais urgentes, o tecido ovariano pode ser congelado através de um procedimento cirúrgico, realizado através da videolaparoscopia.

A técnica a ser escolhida vai depender da idade do paciente, do tempo disponível para que as medidas possam ser tomadas sem atrapalhar o sucesso do tratamento oncológico e do tipo de câncer. Esta escolha deve ser feita em conjunto com o oncologista, em tempo hábil, sem prejudicar a saúde do paciente.

Confira a seguir as técnicas para preservação da fertilidade:

Criopreservação de Sêmen: técnica amplamente utilizada e consolidada, pois faz parte da rotina dos laboratórios preservar espermatozoides. Os espermatozoides são células que respondem muito bem ao congelamento e descongelamento, apresentando altíssimas taxas de sobrevivência.

Não existe tempo limite de congelamento, tanto que há casos registrados de crianças nascidas com mais de 20 anos de congelamento de sêmen. O ideal é que o homem realize a coleta por masturbação no laboratório, totalizando três amostras seminais em dias diferentes para o armazenamento, não sendo necessário nenhum preparo especial por parte do paciente. Nos casos em que não haja tempo antes do tratamento de quimioterapia, pelo menos uma amostra deverá ser colhida.

Criopreservação de Embriões: uma das maneiras mais comuns e consolidadas de preservar a capacidade da paciente ou do casal de conceber no futuro. Antes do congelamento dos embriões, a paciente deve passar por um procedimento de Fertilização in Vitro (FIV), chamada de FIV de Emergência, por ser rápida e sem a necessidade de se aguardar a menstruação.

Após a coleta de óvulos, os embriões são produzidos pela união do óvulo e do espermatozoide em laboratório, portanto, para esta técnica a paciente deve ter um parceiro. Os embriões morfologicamente viáveis são criopreservados no quinto ou sexto dia de desenvolvimento extracorpórea, em estágio de blastocisto. Com isso, após o final do tratamento do câncer, se a paciente decidir ter filhos, é possível transferir os embriões para o útero após um ciclo ovulatório ou com o auxílio de um preparo hormonal do endométrio mimetizando um ciclo ovulatório.

As taxas de sobrevivência embrionária ao processo de congelamento e descongelamento são elevadas e, com o aperfeiçoamento das técnicas de vitrificação, chegam a níveis superiores a 90%.

Criopreservação de Óvulos: técnica mundialmente utilizada em que, antes de iniciá-la, a paciente passa por um período de indução da ovulação, com o objetivo de recrutamento e crescimento folicular, seguido de aspiração e identificação microscópica dos oócitos para sua vitrificação (congelamento).

Esse procedimento leva de 10 a 15 dias para ser realizado e não é necessário esperar pelo próximo ciclo menstrual, como era feito anteriormente. Durante esse período, ocorre a estimulação ovariana, coleta e vitrificação dos óvulos – congelamento rápido em nitrogênio líquido à baixíssima temperatura. Em casos de mulheres casadas, o congelamento de embriões também pode ser realizado.

No caso de óvulos imaturos – sem a etapa completa de indução da ovulação -, eles também podem ser criopreservados após passar por um processo de maturação in vitro, realizado antes ou após a preservação, tornando o processo ainda mais rápido.

Os óvulos podem ser criopreservados por tempo indeterminado. Atualmente, as taxas de sobrevivência ao descongelamento aproximam-se a 85% com as técnicas de vitrificação.

Este procedimento é muito bem indicado para mulheres solteiras, já que a etapa de fertilização com espermatozoides não precisa ser realizada.

Criopreservação de Tecido Ovariano: nesta técnica, parte ou até mesmo todo o ovário da paciente é retirado cirurgicamente, de acordo com a indicação, para congelamento antes do início do tratamento do câncer. Existem várias técnicas de congelamento para esse procedimento, e entre as mais utilizadas estão o congelamento lento e a vitrificação. Após o término do tratamento oncológico e dependendo do estado de saúde e do desejo da paciente (e do cônjuge) de engravidar, é feito o descongelamento de pequenos fragmentos ovarianos para o transplante, que poderá ser autotópico (implante no ovário remanescente) ou heterotópico (inserção de fragmento(s) ovariano(s) no plano subcutâneo do braço e abdômen).

Após o transplante e a comprovação do funcionamento do tecido, a gestação pode ser espontânea ou, caso necessário, ainda temos o auxílio das técnicas de FIV. O congelamento de tecido ovariano, embora já possa ser realizado sem grandes dificuldades, ainda é considerado como experimental, já que o número de gravidezes após o transplante ainda é pequeno. Toda via o número de pacientes a realizar o congelamento vem aumentando em todo o mundo e as pesquisas neste campo não param de crescer. Este procedimento está indicado para pacientes que têm menos de uma semana para iniciar o tratamento quimioterápico e para crianças pré-púberes.

Criopreservação de Tecido Testicular: através de uma biópsia testicular, os túbulos seminíferos são aspirados e as células-tronco de espermatogonias presentes no testículo (spermatogonialstemcell) são isoladas e congeladas. Esse procedimento é indicado para crianças (pré-puberes) que, todavia não entraram na puberdade e, devido a isso, não começaram a produção de espermatozoides (espermatogênese). Essa técnica possibilita que, após o tratamento oncológico e depois que comprovado a cura desses pacientes, essas células sejam novamente transplantadas para o testículo ou diferenciadas in vitro, possibilitando que esses pacientes voltem a ter seus próprios espermatozoides e, assim, consecutivamente, seus filhos biológicos. Atualmente, este procedimento está no âmbito experimental.

Supressão da Função Ovariana: existem medicações chamadas de análogos do GnRH, que são capazes de bloquear a produção hormonal do ovário, deixando-o em um estado de “repouso”. O ovário suprimido não irá ovular e seus folículos ficarão de certo modo protegidos dos quimioterápicos, amenizando o efeito deletério que estes fazem no ovário. A eficácia deste método é controversa e ainda não é consenso, mas, ao que parece, este método pode funcionar para algumas mulheres jovens, que não terão tempo hábil antes do tratamento quimioterápico para a utilização de técnicas mais sofisticadas.

Transposição Ovariana: a técnica consiste em mover os ovários cirurgicamente e fixá-los longe da área a receber terapia de radiação. O objetivo da cirurgia é deixar o ovário com suas funções biológicas fora do caminho da radiação nociva. Esta técnica deve ser realizada antes do início da radioterapia e é importante salientar que não protegerá contra os efeitos da quimioterapia. A técnica de transposição ovariana está indicada para pacientes que irão receber tratamento radioterápico na região da pelve.

Em todos esses casos clínicos, é fundamental a atuação conjunta entre o médico oncologista e uma equipe especializada em reprodução humana para dar ao paciente um suporte às decisões mais adequadas, referentes ao tratamento oncológico e à preservação da fertilidade.